segunda-feira, 2 de junho de 2008

Vida


Dizem que aqui em Montreal o lugar preferido dos suicidas são as estações de metrô. E o mês em que ocorre o maior número de suicídios é fevereiro. Talvez por causa do inverno. Tudo muito cinza demais. Talvez a solidão, a falta de sentido, de um porquê, de respostas. Ou talvez eu esteja errada e nunca saiba ao certo. Quem já passou pela experiência não pode mais contar a história, afinal. Desde que cheguei aqui o serviço do metrô teve que ser interrompido algumas vezes por causa de suicidas em ação. Que morrem na contramão atrapalhando o trânsito, como diria o poeta. Fico imaginando o coração dos "motoristas" ao verem um corpo se atirando sobre os trilhos. Sem perdão, sem chance, sem freio. Dois segundos e pronto, cabou-se.
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No início eu fiquei impressionada com tudo isso. Quando o metrô chegava em alta velocidade atropelando o nada e trazendo uma ventania fria eu pensava baixinho "é agora". E me preparava internamente pro filme de terror, pra dar um grito de surpresa, pra virar o rosto diante da cena. Ainda bem que nunca aconteceu. Em vez de ter medo, eu passei a admirar as estações de metrô. É bem verdade que elas guardam uma certa morbidez. Mas ultimamente meus olhos só conseguem enxergar arte.

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